Silva, a alma da festa
- por Persephone (BNU)
- Técnica: Papietagem em papel Paraná (reciclado) e cola PVA, massa corrida, tinta Chalk, verniz e aplicação de cabelo da artista.
Uma criança aloprada. Dessas que até ficam em silêncio (às vezes, raramente), mas se em silêncio estão, boa coisa não pode ser. Silva não é seu nome (obviamente), é o sobrenome da família da mãe, com quem vive, as duas sozinhas depois da muito comemorada morte do padrasto. Sozinhas sim, mas só dentro da casa, porque elas vivem a vizinhança de forma intensa.
Silva gosta de abraçar gatos até que gemam sem ar, virar cambalhotas, estrelinhas e posar para fotos. Espetaculosidade pueril encarnada. Conseguir seu sorriso e sua amizade é muito mais fácil que ignorá-la ou esquecê-la.
Todo sábado, ela e sua mãe vão à Casa de Salga, à beira da praia, onde o peixe é limpo e salgado, formando grandes varais. Ali onde também sua mãe vende roupas usadas e as vizinhas, renda, panos de prato pintados a mão e maria-mole. Sua mãe lá compartilha a famosa Consertada — bebida de herança das avós, feita com o restinho do café e "consertado" com cachaça, gengibre, cravo, canela e erva-doce.
Na rua que moram, de onde só seguir por um quilômetro e se chega no mar, a troca de serviços, recursos e conhecimentos está sempre à sua volta. Por mais que Silva ainda não entenda a importância disso, sempre está de ouvido aberto ao que a mãe e as outras dizem. Absorve tudo, como uma esponja, pronta para dizer algo que “não deve” na “pior hora” e fazer todes gargalharem. Ao sentarem à mesa para o "aparadinho" coado na hora, todas as mulheres mais velhas que a encontram se enchem de nostalgia ao enxergar em Silva uma imaculada alegria de viver que delas já foi tirada. Todas elas pedem à Nossa Senhora Aparecida para que nunca tirem
Essa máscara é uma homenagem às mulheres da família da minha avó materna, inspirada especificamente em uma prima de segundo grau. Se fôssemos matriarcais, Silva poderia ser um dos meus sobrenomes.